25.5.19

...nas águas agitadas do existir...





...no mar desta vida largamente vivida, 
naveguei ao sabor das estações... 
... quase sempre sem arrimo ...
muitas vezes boiando, em névoa consentida, 
para mitigar a perda de ilusões...
*
... na convivência com a dor 
- aquela que só dói por que se existe, 
a que, dentro de nós, cava em surdina 
sem conhecer regras ou mentor - 
naufraguei algures numa praia 
por mim  não conhecida...
...e onde aprendi  muitas coisas...
- também a afogar sonhos - 
e a enterrar desejos 
 e a vontade em perseverar...
*
...porém, nunca esqueci,
 nesse mar agitado de emoções vividas, 
um mundo de sentires exacerbados
 por alguém amado até ao limite da paixão...
*
... o mar é agitado, a natureza  ensandecida... 
pobre natureza à míngua de cuidados,
martirizada, carente, sequiosa!...
*
... hoje, faço o que posso, nesta luta insana 
 que é a tentativa de prolongar a vida 
de tudo que sofre ou que fenece...
- (não a tua, decerto, que não queres,  nem posso) -
mas apenas a de uma humilde rã 
 ou a de uma bela rosa...


Sigmar










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21.5.19

Manhãs com frio...


Passou o tempo das frésias ...  esperança de promessas 
que a primavera virá satisfazer.
 Ao sussurro do vento frio de manhãs frescas de névoa, 
vagamente alegradas pelo saltitar das avezitas friorentas 
 a procurar alimento no solo endurecido, gelado, 
das longas noites do inverno que cessa,
baila no ar a pergunta singela: 
«E agora?
Depois dos frios agrestes 
que me trazes tu?» 



«Vou trazer-te vida;
 venho trazer-te esperança. 
E a paz ; 
e a confiança em ti 
para realizares amor.» 



...e a manhã é estranha e tímida como uma criança...
...e retraída, e séria, no encarar da luz...
...e ouve-se-lhe o suspiro outrora ouvido 
quando então murmura:
"amén, Jesus!"...




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15.5.19

...tempo de maias...


...é tempo de maias e de giestas
e as flores do tojo também amarelecem devagar 
 libertando os acerados acúleos
por entre altas ervas viçosamente verdes 
após as últimas e copiosas chuvas 
de uma primavera com calores de um quase verão...



...razão porque já se podem ver estevas altaneiras 
em zonas onde o sol dardeja os seus raios mais quentes...

...como gosto do cheiro acre e intenso das estevas 
 nos fins das tardes quentes e poeirentas 
do auge de um verão!...

...porém,agora ainda não cheiram...
...ainda não...

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13.5.19

... se todo mundo é capaz...






...por que não cada um que a sente?...

... é tão triste, tão frustrante, quando se não consegue...
e se ninguém mais for capaz de o conseguir para nos ajudar...

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...se o sol brilha...




« Com desadvertida alegria em tempos passados
Cantei o prazer em rimas sedutoras.
Mudaram os tempos e o destino ensinou-me o espírito
A partilhar as tristezas comuns da Humanidade.» 

  Voltaire  [1694-1778]  dixit, num poema épico, em que retrata a evolução do seu pensamento,
 da frivolidade para a Filosofia.

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...sermos...




Se o Sol brilha, tudo parece brilhar 
com sorrisos, 
 palavras amáveis,
  música que o vento agita, 
rola e devolve 
e nos beija os ouvidos, 
mesmo quando cansados 
ou empedernidos.
*
Até a Dor, a dor física 
ou a imensa queixa existencial da criação, 
se atenua 
numa concentração de esperança 
em dias melhores 
que vão surgir.


Maroto, libidinoso e criativo,
o Sol dardeja raios coruscantes 
- setas inflamadas 
de um deus enamorado, 
sem compaixão pelos que atinge, 
quando desdobra o seu manto de luz 
sobre a natureza empobrecida 
que o espera indefesa 
após um inverno estéril,  enevoado e frio,
natureza ansiosa, 
agora expectante por calor. 
*
... somos também natureza e vida 
e o Sol  benvindo 
- cruel e lindo! - 
meu amor.


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9.5.19

...dar e receber...


...creio que vou seguindo o conselho: 
 - quem precisa, nos dias de hoje, quando se pretende ter tudo, do que,
 com mais ou menos humildade ,
ou mais ou menos orgulho, 
possuímos de nós?...
Dar não está na moda - só o exigir;
dar 
é um dos verbos politicamente incorrectos...


... a menos que o inimigo se queira
fazer também passar 
por um ser humano  com valores > 
aí a decepção é ... calamitosamente trágica.
Se amigos decepcionam já tanto... 
como aceitar a falta de ética dos declarados inimigos?...
E damos connosco a perguntar
se não seremos nós,
afinal,
quem tanto errámos...
É o fim:
ou do desespero ou do sonho.


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7.5.19

...viver a vida= é ir vivendo...

                                                                                      [19.11.1935]
Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente.
E demoradamente é nossa e nós...


Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.

Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.

Fernando Pessoa, in Cancioneiro

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5.5.19

... amor de mãe...




...e é ainda o seu exemplo que me vai sempre inspirando  
mesmo agora que não está aqui ...
...talvez até mais do que quando estava...  
contudo, sempre soube que me amava 
do seu jeito...
... hoje, peço-te inspiração para amar os meus  
...os teus...
...os nossos... 
Um beijo imaterial para ti, 
neste dia, 
minha MÃE.

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...apenas margens...

Entre duas margens há uma ponte
natural
ou construída
não importa
          *

Corre a água por baixo
da ponte
ou cobre-a
em momentos dramáticos 
de funda aflição
           *
Porém,cada margem  
é porto vazio... é solidão

 

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